
alberto lins caldas é o nome do homem. finalmente encontrei um brasileiro fodão. como henry miller, como bukowsky, como artaud, como deleuze, como nietzsche, como hakim bey, como robert anton wilson, como timothy leary. mestre - escurecer e ver a luz.
abaixo o seu "liberdade de expressão" - meus queridos e minhas queridas, é pra copy and paste, imprimir e meditar. puta que o pariu é bom demais.
mais aqui: http://contra0brasil.blogspot.com/ , vejam o "liberdade de corpo" e caguem nas calças.
o site do cara é o http://www.unir.br/~albertolinscaldas/
alberto lins caldas é o cara. definitivamente.
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liberdade de expressão
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incipit: parrhesia [pan= tudo/rima= dizer, o que é dito, o “tudo dizer”: “falar sem obstáculos”, fala franca, simples, direta, a “livre palavra”; liberdade e franqueza que transcendem as normas e leva a um “mais além” dialógico; o enfrentamento, “fala não farisaica”, “orgulho da língua livre”, a “fala sem amarras” dos “homens livres”; no catecismo católico quer dizer “simplicidade sem rodeios”, “confiança filial”, “jovial segurança”, “audácia humilde”, “certeza de ser amado”, coragem, confiança; faz parte das múltiplas manifestações da graça: relação com deus e com os homens, antecipação da salvação como alegria e humor, discernimento e coragem (a parrhesia propriamente), os dons do espírito santo; “liberdade de tomar a palavra” ou seja, na “assembléia do povo”, falar francamente]; parresiata [aquele que diz tudo, o que tem a coragem da verdade, o filósofo no sentido mais direto como aquele que interfere, se arisca, toca fundo nas feridas e não teme dizer sua dimensão; intelectual no sentido de atuação na comunidade; aquele que liberta e, nesse sentido, é um libertino].
a parrhesia é uma dimensão da coragem, daqueles que, por não serem senhores, dizem a verdade, se dão ao direito de tudo dizerem até mesmo com sua vida, com o risco da vida, que é a garantia da verdade, que jorra do seu exemplo, das suas escolhas vitais: dizer a verdade é conseqüência da vida em busca da verdade. a crença na verdade e a busca pela verdade é o mesmo que a verdade, a verdade como garantia vital, crença feita com a vida, como sócrates (o primeiro parresiata). ele dizia, através de platão (“a república”), que a “parrhesia é a causa de minha impopularidade”, e vivia e morreu em conformidade com a parrhesia, tornando ela a própria filosofia não somente como um dizer sobre o ser mais um dizer que tem a coragem de dizer, de se dizer ao dizer o mundo e os outros. a parresia ex-põe o ser.
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incipit: parrhesia [pan= tudo/rima= dizer, o que é dito, o “tudo dizer”: “falar sem obstáculos”, fala franca, simples, direta, a “livre palavra”; liberdade e franqueza que transcendem as normas e leva a um “mais além” dialógico; o enfrentamento, “fala não farisaica”, “orgulho da língua livre”, a “fala sem amarras” dos “homens livres”; no catecismo católico quer dizer “simplicidade sem rodeios”, “confiança filial”, “jovial segurança”, “audácia humilde”, “certeza de ser amado”, coragem, confiança; faz parte das múltiplas manifestações da graça: relação com deus e com os homens, antecipação da salvação como alegria e humor, discernimento e coragem (a parrhesia propriamente), os dons do espírito santo; “liberdade de tomar a palavra” ou seja, na “assembléia do povo”, falar francamente]; parresiata [aquele que diz tudo, o que tem a coragem da verdade, o filósofo no sentido mais direto como aquele que interfere, se arisca, toca fundo nas feridas e não teme dizer sua dimensão; intelectual no sentido de atuação na comunidade; aquele que liberta e, nesse sentido, é um libertino].
a parrhesia é uma dimensão da coragem, daqueles que, por não serem senhores, dizem a verdade, se dão ao direito de tudo dizerem até mesmo com sua vida, com o risco da vida, que é a garantia da verdade, que jorra do seu exemplo, das suas escolhas vitais: dizer a verdade é conseqüência da vida em busca da verdade. a crença na verdade e a busca pela verdade é o mesmo que a verdade, a verdade como garantia vital, crença feita com a vida, como sócrates (o primeiro parresiata). ele dizia, através de platão (“a república”), que a “parrhesia é a causa de minha impopularidade”, e vivia e morreu em conformidade com a parrhesia, tornando ela a própria filosofia não somente como um dizer sobre o ser mais um dizer que tem a coragem de dizer, de se dizer ao dizer o mundo e os outros. a parresia ex-põe o ser.
na minha primeira juventude, quando comecei a ler filosofia em busca das minhas buscas, encontrei como todo leitor os livros de platão e seu personagem principal. com sua vida e morte o sentido das buscas se resumiram e se consolidaram numa só, que viria a chamar literatura em seu sentido estrito e afiado. sócrates vivia conforme, seu dizer e sua vida eram com aquela forma onde uma supõe a outra, sem as contradicções tradicionais. a verdade e a vida estavam na vida como exemplo integral. o seu “quem sou?”, “ao que me conformo?”, “que estou aceitando?”, “sou cúmplice do que?”, “como me libertar mais ainda?”, “sou condescendente?”, “que devo fazer nessa cidade e com os costumes dessa cidade?”, “dizendo isso serei amado ou ser amado é sem importância diante da verdade?”, “como libertar o outro das suas ilusões?”: crítica e autocrítica juntos, escolhas fundamentais. a verdade e o dizer a sua verdade sobre a corrente, apesar da corrente, arriscando a vida, a paz, os amigos e amores, a segurança e o respeito: a parrhesia exige isso, o risco em fazer a verdade se identificar com o risco vital: o parresiata é um toureiro e sua arte exige o risco de vida para ser exercida: sem o touro a tauromaquia seria somente uma dança de patetas: o risco diz a arte, diz a vida e a verdade: diz o dizer.
a parrhesia continua a ser fundamento para qualquer teoria, qualquer dis-curso que deseje dizer o mundo e, ao mesmo tempo, dizer aquele que diz, aquele que assume o dizer. e dizer a verdade é também dizer o falador e dizer todos em torno desse dizer e desse falador. a liberdade de expressão se torna cada vez mais espécie de “ultimo bastião” da liberdade social na onipresença da mercadoria. num mundo tal devemos e temos a obrigação ética de “interpelar” tudo e a todos sem amarras, sem medo das conseqüências, sobre o que fazem poderes e governos; o que dizem, o que permitem e o que proíbem; o que cercam e o que abrem; sobre o sentido de cada crença, cada palavra, cada ameaça travestida de “bons costumes”; inter-pelar a lei e os “senhores da lei”; inter-pelar os crentes e suas crenças, os “inocentes” e os “culpados”, as economias e as políticas (inquirir táticas e estratégias, perquirir expressões e ícones, sentidos e parábolas, anúncios e pré-núncios); inter-pelar o corpo e suas técnicas, suas mutações e perversões; inter-pelar as mídias e suas loucuras servis; inter-pelar as ações e as inações, as decisões e indecisões; inter-pelar os saberes, as imagens, as experiências, o senso comum e as filosofias, o desejo e o gozo; inter-pelar o interpelador inter-pelando as interpelações: somente assim posso começar a ser um “cidadão”: sem essa inter-pelação furiosa a cidadania é somente apêndice dos poderes mais crus e do poder mais frio e ignorante, daquilo que é exatamente contra a existência do cidadão e de toda possibilidade real de democracia (sem a parrhesia a própria lei é simulacro): a parrhesia é “perguntar sobre a verdade”, é clamar por ela quando se encontra tão travestida de realidade, de natureza, de crenças, de poderes e de saberes que ela mesma e todos nós já não nos sabemos senão o que o mundo do formigueiro deseja que percebamos: a parrhesia é quebrar esse espelho cruel: é chegar ao caos e sua incorporação viva pela práxis em forma de ordem, crença atividade.
sem a parrhesia a sociedade não conquista a cidadania e sem o parresiata ela não conquista a existência: só há cidadania se há parrhesia e só há cidadão com o aparecimento do parresiata: o resto é manada e pasto, estribaria da reprodução para servir aos mecanismos alienantes do trabalho.
só uma sociedade sorrateiramente autoritária (este horror maligno chamado brasil), que confunde lei e ordem com democracia; onde a mercadoria, as propiedades do senhor são intocáveis em sua forma de existência, pode ser contra a “liberdade de expressão” (considerada aqui aquela que vai além da permissão, além da lei, além das crenças, além do respeito, além do poder, além do costume e da individualidade intocável como “sujeito de contrato”). dizer contra a ordem, contra a norma, contra a forma porque essas são “palavras de ordem” militar, não pleno exercício de democracia ou liberdade. a grande razão do parresiata não é dizer o ser, não é lutar pela verdade (que muda o tempo inteiro ao sabor de todas as ondas), mas pelo dizer a verdade com a coragem e o risco da vida, a coragem de lutar pela liberdade de dizer a verdade.
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tenho me engajado a vida inteira na luta e na defesa da liberdade. aqui pretendo falar daquela liberdade que deve ser completa, total, absoluta: a de pensar, falar, imaginar e escrever definitivamente tudo sem que nada impeça, nada previna, nada proíba; nada censure, nada se interponha, nada reverta ou abale; nada torture ou aprisione. que tudo responda, mas que nada rasgue, queime, impossibilite, processe, violente, mude, refaça, esconda, ameace.
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tenho me engajado a vida inteira na luta e na defesa da liberdade. aqui pretendo falar daquela liberdade que deve ser completa, total, absoluta: a de pensar, falar, imaginar e escrever definitivamente tudo sem que nada impeça, nada previna, nada proíba; nada censure, nada se interponha, nada reverta ou abale; nada torture ou aprisione. que tudo responda, mas que nada rasgue, queime, impossibilite, processe, violente, mude, refaça, esconda, ameace.
e pensar isso e assim nesse país infeliz (não que haja países felizes) que carrega o fascismo como corpo e alma, como história e memória, como cotidiano e crença, é pedir demais.
uma das loucuras aceitas como normalidade é o “delito de opinião”, que permite processar os que escrevem, como se isso fosse a maior conquista do mundo. em nome de todos os bons conceitos, das boas idéias, do reto caminho todos renunciam a liberdade, justificam a censura em todas as suas sutis formas, o corte, o processo, a perseguição, a imposição. outra é a “apologia ao crime”, como se defender qualquer forma de crime, de delito, de horror reproduzisse magicamente esse horror, como se fossem todos imbecis que não podem nem conseguem discernir nada. e quem “omite opinião” é processado, preso e perseguido, e isso não é visto como o maior dos horrores, uma brutalidade.
nada, absolutamente nada do que é ou pode ou já foi escrito é mais abominável que as ações contra o escrito, o pensado, o desejado, o dito, o visto. tudo, absolutamente tudo, pode e deve ser dito, ser escrito, ser transformado em imagem, em som, em algo manipulável. nossa função é defender essa forma absoluta de liberdade e a sua também absoluta resposta e lutar contra o abominável que foi escrito, pensado, falado, filmado, mas jamais proibir. a luta se faz entre as escritas, entre falas sem proibir nenhuma delas e possibilitando a todas elas a igualdade de condições e de divulgação.
defender, propagar, expor todas as formas de exploração como se fizesse o bem, os apartáides, todos os nazismos, todas as formas de terrorismo, a pedofilia, a proibição de livros e idéias, as chacinas, os massacres, as perseguições, as torturas, as humilhações, as intervenções, as desproteções, as dormências, os conformismos, os genocídios, as repressão, o terror, os racismos, as homofobias, os machismos: - são absolutamente detestáveis, ridículas e monstruosas, mas devem ter o direito de serem ditos. como ações e palavras não são iguais, devem ser combatidas enquanto idéias e enquanto ações por poderes e forças diferentes. palavras contra palavras, ações contra ações. não se pune um pedófilo por ser pedófilo em idéias, em propagar a pedofilia, mas por ser pedófilo, por praticar de alguma maneira a pedofilia: numa dimensão ele deve ser absolutamente livre, na outra a lei cuida dele, a “comunidade” põe sua existência em cheque. que suas idéias são monstruosas ou não, a decisão cabe ao leitor, ao ouvinte, ao telespectador, ao cidadão, não a lei ou ao estado. ou o monstro seremos nós os que destruímos suas palavras e seu direito inalienável de dizer. por eles serem monstros não serei também censurando por aquilo que me faz diferente deles e eticamente capaz de lutar contra eles. luto contra eles, e devemos lutar sempre contra eles, mas devemos também e com o mesmo ardor defender seu direito de dizer e o pleno direito dos “leitores” discernirem, escolherem, usando sua vida e sua consciência plenamente, sem que algo externo diga o que deve ouvir ou não ouvir, ler ou não ler, ver ou não ver, escolher ou não escolher: devo ser livre para escolher ou não o abominável, sem que ele seja retirado violentamente dos meus sentidos, do meu corpo, da minha consciência, da minha convivência como se fossemos “débeis mentais”, “escravos” ou “crianças”: eu devo escolher, eu posso escolher, eu luto para escolher, eu sou escolha. não pode ser a polícia, o exército, a tradição, o mercado, a mídia, os intelectuais, o partido, o bom gosto, o bom tom, a justiça, o estado, o síndico, o sacerdote, o prefeito, o censor, o professor, o pai: precisamos aprender a conviver com a diferença e com a liberdade que essa diferença exige. a tolerância absoluta é ao “escrito” (ficção de convicção), jamais ao intolerável que, se exercendo, destrói essa liberdade e outras que são essenciais.
tudo dizer, tudo escrever, tudo ouvir, tudo ver, tudo escrever, tudo ouvir, tudo pensar tem como correlato a luta obsessiva contra as múltiplas barbáries que transformam tudo em mercadoria, em cinzas ou numa perversa violência sem fim. nada pode ser íntegro, intocável; nada deve sair ileso; nada é sagrado, nada é puro; nenhuma idéia, nenhum nome, nenhuma relação, nenhuma crença, nenhuma noção, nenhum deus, nenhuma gramática, nenhum costume, nenhum corpo, nenhuma cor, nenhuma memória, nenhum desejo, nada pode escapar ao ridículo, à crítica, ao escracho, ao escárnio, a dissolução, ao direito de ser exposto, comparado, diminuído, posto na sua devida estatura.
o que não resiste, não se agüenta, o que chama a polícia, a justiça, os amigos, os capangas, o exército é porque não vale a pena. se valesse a pena responderia a altura, lutaria com as mesmas armas, sem impor sua evidência de poder sem contestação, sua evidência monstruosa. como clama os poderes se esvazia de valor, de verdade, comungando com tudo aquilo que impõe sombras, violência e mercadoria como horizonte único.
a liberdade de expressão é o espírito vivo da palavra, do diálogo, da linguagem, da comunicação, da possibilidade viva de convivência e superação, mas não quer dizer aceitação, aprovação, chancela de tudo. é exatamente por viver a diferença que posso e devo aceitar plenamente a “apologia ao crime” e lutar veementemente contra o crime, que não foi criado nem se difunde pela “apologia”: punir a "apologia ao crime" é maior e mais danoso que qualquer crime: é o crime fundamental.
a liberdade de expressão devolve ou recria na linguagem sua dimensão humana, seu poder poético, sua missão política e revigora ela enquanto aquilo que gera e mantém o próprio real. não é a toa que no brasil a palavra sempre teve donos, sempre foi vigiada, sempre fez parte de sistemas de permissão e proibição, sempre foi propriedade privada, sempre foi fazenda e fábrica, sempre se colou à moral, à imagem, aos bons costumes, à pessoa: sem a garantia da palavra, sem a palavra garantida e protegida, grande parte das crenças estúpidas e fascistas dos brasileiros se desmoraliza e sua situação de dependência aparece.
entre os brasileiros a palavra deve, precisa inapelavelmente ser tutelada, protegida, abrigada, brindada; o indivíduo não pode estar só diante da tempestade do dizer: é preciso chamar o rei, a lei, todas as formas de poder para proteger ele da parrhesia dos trágicos cínicos, a liberdade de linguagem, a liberdade de falar francamente a sua verdade sem mediações permitidoras ou censoras. o dizer numa dimensão ética plena e, nessa dimensão, ser defendida não somente pelos indivíduos, mas pela própria polis enquanto condição democrática de sua existência.
essa palavra tutelada dos brasileiros torna eles eternamente infantis, recorrendo sempre ao papai quando sua imagem é atingida, quando sua vida é exposta, quando sua moral é danificada: são incapazes de dizer de volta e na medida, incapazes de rejeitar a palavra sem o apoio do rei ou da lei: são castrados ao castrarem com a lei e com o rei. ao não enfrentarem as tempestades das palavras além de se tornarem fracos, fortalecem as tempestades viciadas, os nazismos e todas as formas monstruosas das palavras. ao buscarem a verdade com a força se enfraquecem e a verdade e o direito somem. todos são "senhores de engenho", intocáveis em sua imagem, sua moral e história: o senhor ainda está colado nas costas do brasileiro até quando ele pensa "defender os seus direitos".