Intro:
Lavagem Cerebral - O fator fundamental para o sucesso da lavagem cerebral é criar um ambiente de controle de pensamento num mundo que se divide binariamente entre "nós" e "eles".

Demônios:
Nem sempre podemos tomar este esquema de "lavagem cerebral" como algo explicitamente intencional. Não que não possam existir intenções explícitas de lavagem cerebral, o que aliás acreditamos como reais, mas o que nos parece oportuno destacar aqui é que este processo, esta operatividade pode se dar como uma maquinaria com sentimentos, idéias e propósitos maiores.
Primeiramente, o esquema dentro-fora / verdade-mentira / segurança-caos / nós-eles parece ser um mecanismo observável em inúmeras situações. Da busca rebanhesca pela segurança psicológica aos consensos científicos, existe a formulação de uma espécie de acordo operatório que torna a existência algo suportável. Referência inevitável à verdade como mentira em rebanho em Nietzsche da Verdade e Mentira no Sentido Extra-Moral. Não interessa a verdade ou mentira, nos parece que o importante aqui é o cimento do afeto que consolida tal relação - a manada precisa sentir pertencimento: precisa de sorrisos, abraços, cumprimentos, olhares aprovadores, precisa deste bem-estar social do estar de acordo. Não interessa o propósito, a fundo não, não interessa para onde estão indo, precisam estar confortáveis, afetuosos, seguros psicologicamente. Daí muitos realmente precisarem de alguém que lhes conduza, a vida é algo enorme diante deles: precisam de um pastor, um presidente, uma esposa, a loteria, o galã da novela, o livro de auto-ajuda, a roupa da moda, o emprego, o carro novo, a cocaína, a balada, a verdade verdadeira.

Tudo, menos estar a sós consigo. Tudo, menos o silêncio intolerável que vem do contato do teu corpo com o universo. O ruído da manada te dopa e repele o teu principal medo: o de tomares as rédeas de tua própria existência. Medo de sofreres, de sangrares, de te abandonares ao teu próprio heroísmo. Inventas e reinventas afetos, grupos e sintomas para fugires de ti mesmo. Inventas um deus, destróis todos os ruídos que possam te lembrar que ele é uma invenção: inquisições, panfletos, programas de TV, minutos de ódio. Não experimentas deus, ou o mistério ou o maravilhoso, que seja. Medias. Precisas de mediações - o quanto mais simples possíveis - simplórias o suficiente para que possas discerní-las. Buscas o abraço, choras no ombro, confessas teus pecados. Milhares de medrosos inventam a segurança. Querem que os medos parem de pulsar - criam verdades blindadas. Mas os medos seguem pulsando, demônios que são, seres etéreos a gritarem a multiplicidade caótica que habita este planeta. Demônios todos com seus silêncios e sutilezas - são as mentiras das tuas verdades. Demônios maliciosos das tuas certezas. Crueldades de teus afetos. Monstros noturnos que te habitam - a multiplicidade caótica que povoa a Terra, a Natureza que não para de pulsar, a tua sorte à qual estás entregue, monstro demoníaco do qual não escapas. Satã, príncipe deste mundo.
Ser um demônio:

Singrar a escuridão silenciosa da deriva. Estar de fora.